"Asklepieion designa, na Grécia Antiga os templos curativos dedicados a Asclépio (Esculápio, na designação latina), ao deus da Medicina, deus da Medicina, filho de Apolo e de Coronis. Os peregrinos doentes acudiam em grande número a esses oráculos, construídos em locais especialmente escolhidos pela sua qualidade ambiental, onde eram tratados através de procedimentos naturais e do repouso, num ambiente arquitectónico que era também propício à regeneração física e psicológica. Embora praticassem uma medicina ainda rudimentar à luz dos conhecimentos actuais, os primeiros sacerdotes-médicos (entre eles, Hipócrates, considerado o ‘pai’ da medicina racional) já procuravam inteligibilizar as relações entre o ser humano e o mundo natural, através da promoção do equilíbrio e da sustentabilidade do corpo na natureza. [...] Assim, inspirado na ideia dos templos da medicina gregos, o presente trabalho explora as relações entre significado e significante, mito e realidade, memória histórica e paisagem natural, através de imagens do céu, onde decorre uma dança de parapentes, uma espécie de sagração contemporânea da relação homem-natureza. Aparentemente estranha a este contexto, uma palavra, asklepieion, afixada na imagem mantém-se ao longo da projecção, em loop. A conotação desta palavra com os deuses e a medicina, abre, neste lugar indeterminado do espaço (não se identificam nestas imagens do céu coordenadas geográficas), as portas ao imaginário, permitindo reflectir sobre a ideia, o sentido último, da arte de curar. Ou de como sustentar um corpo cujo equilíbrio, mesmo nas mais perfeitas condições, é sempre precário? Como adequar um corpo finito ao infinito da natureza e do espaço? Como melhorar a natureza sem transfigurar o homem? Ao longo de milénios tem sido este o sonho do homem e da medicina."
Manuel Valente Alves, “Asklepieion”, in Hospital, catálogo da exposição, APDH, Lisboa, 2012