"No princípio era o desenho. Um vestígio, uma marca que cedo passou do acaso à intencionalidade. Logo o desenho se tornaria projecto e se confundiria com o desejo, o desígnio, a vontade. Como se apenas víssemos ou reconhecêssemos o mundo porque já o tínhamos encontrado antes, pensado antes, organizado no habitáculo íntimo dos nossos pensamentos. Como alguém já disse, vemos o que estamos preparados para ver. Assim aconteceu também neste processo de que a exposição de Manuel Valente Alves dá conta.
Apontando ao primado e à reflexão que pressupõe, os desenhos concebidos para esta exposição iniciam o processo deste trajecto plástico com uma proposta de organização formal. Ou seja: os primeiros desenhos funcionam como uma escrita prévia. Preparação para a viagem, eles prevêem o que o autor iria encontrar depois."

Emília Ferreira, “No princípio era o desenho”, in “Manuel Valente Alves – Cadmo e Harmonia”, catálogo da exposição, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Almada, 2007

"In the beginning it was the drawing. A trace, a mark that soon passed from chance to intentionality. Soon the drawing would become a project and would be confused with the desire, the design, the will. As if we only saw or recognized the world because the we have found before, thought before, organized in the intimate habitat of our thoughts.As someone already said, we see what we are prepared to see.This was also the case in the process of which Manuel Valente Alves's exhibition gives account.
Pointing to primacy and reflection that presupposes, the drawings created for this exhibition begin the process of this plastic path with a proposal of formal organization.That is: the first drawings work as a prior writing. Preparation for the travel, they predict what the author would find later."

Emília Ferreira, "In the beginning was the drawing", in "Manuel Valente Alves - Cadmo e Harmonia", catalog of the exhibition, Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, Almada, 2007